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A Crônica: E Depois do Ano Novo…

ANDREIA DONADON LEAL

ABN NEWS

Depois do jogo pirotécnico dos fogos de artifício no céu, da virada dos ponteiros de relógio, dos abraços, apertos de mãos, promessas e saudações à família e aos amigos… Depois do Réveillon surgem algumas mudanças de atitude por parte de quem acostumava-se a encher a cara e teve que se deparar com iniciativas inusitadas de suas namoradas pós-adolescentes. A festa nem sempre é só deles!

“Nem te conto como foi meu Ano Novo! Na passagem do ano velho e início do novo bebi um bocado além da conta!

“Foi? Bebi pouco. É assim que eu e meu namorado passamos os últimos quatro finais de ano, sem brigas ou discussões por causa de bebida! Conta aí o que aconteceu de novo no Réveillon!”

“Livrei-me do aborrecimento, pois o cara sempre bebia todas na virada do ano! Eu ficava chateada com a atitude dele. Sempre pedi: não vamos brigar no primeiro dia do ano e beba menos, por favor, amor! Aí que ele aprontava, quando chegava à casa dos pais. Ficávamos metade na casa dos meus familiares, depois íamos pra residência dele no sítio. Enquanto estávamos na casa dos meus pais, ele se comportava feito um santo! Mas na casa dos seus pais mostrava as unhas, entornando todas com os irmãos mais velhos, cunhados, primos e amigos. Eu sempre tinha que dormir lá, no meio de um amontoado de colchões infláveis. Era gente que não acabava mais, dormindo na varanda, no salão de festas, nos quartos grandes, nas salas, nas varandas, na cozinha, nos banheiros, na garagem, no jardim, no galinheiro! Até no galinheiro tinha gente dormindo, ou melhor, apagada de tanto entornar o talo, disputando espaço com as pobres galinhas! Altas horas da madrugada, eu insone tinha que escutar os roncos se misturando ao irritante barulho de corpos se virando à noite toda, naqueles colchões! Odeio aqueles colchões! Eu acostumava-me a passar o início do ano super contrariada, brigando com ele até que… ”

“Até que? Aposto que neste ano foi: vale à pena passar a contrariedade de novo! Eu não cheguei a passar por isso, mas meu namorado quando enchia a cara, ligava imediatamente para algum parente ou amigo para me buscar, onde eu estava. Largava ele lá, boquiaberto, descrente e muito contrariado. Saía do bar ou da casa dos parentes dele, lindamente, com a cabeça erguida, sem olhar pra trás. Fiz isto diversas vezes, depois ele parou de encher a cara no final de ano e em outras festas. Sabe há quanto tempo fiz isto? Cinco anos! Faz quatro que ele parou de encher a cara, depois que eu o abandonei diversas vezes no local, sem dar um pio! E você, qual foi a tática deste ano? Conta, aí!

“Como é meu primeiro ano, não sei se a tática vai dar certo pro resto da vida, mas pelo menos mudei de atitude, e o resultado foi surpreendente! Não passei pela aguardada contrariedade, vendo meu namorado subir nas mesas, fazer discursos ridículos, rir, chorar, prometer mundos e fundos, e em seguida soltar os bofes perto dos convidados. Depois desse mico, eu e a mãe dele levávamos aquele homenzarrão bêbado até o banheiro, dávamos banho, café amargo, até ele melhorar um pouco, para depois apagar feito uma pedra”!

“Nossa! Quanto tempo de namoro?”

“Dois anos!”

“Só duas passagens de ano, e já tomou uma atitude dessas? Aposto que você fez a mesma coisa que eu! Hoje temos uma relação mais séria, compreende? Pena que ele ainda não me pediu em noivado! Mas se você usou a mesma tática que a minha, pedindo seu pai ou outro parente para buscar você no sítio, seu namoro vai ficar mais sério, tenho certeza absoluta! Vai por mim, pois tenho mais experiência!”

“Não foi bem assim. Não pedi a ninguém para me buscar no sítio. Essa ideia nunca me passou pela cabeça… ”

“Então o que você fez?”

“Ah! Já lhe disse que bebi além da conta! O resto eu não me lembro direito, mas acordei na porta do galinheiro, com gosto de guarda-chuva na boca e uma baita enxaqueca!”

“Nossa! Deu mal! Ele e a família dele devem ter ficado irados com você! ”

“Acho que não, pois ontem à noite, ele e os pais dele foram pedir minha mão em noivado”!

* * *

Depois de beber um pouco para desinibir iniciativas, a pré-noiva sempre comportada e tímida subiu nas mesas, recitou poesias de amor e cantou até ficar afônica. Foi aí que o pai do namorado disse para o filho:

“Roubou sua cena, viu? Mulher que declama poesia no Ano Novo e acorda junto com as galinhas é pro resto da vida. Mulher de atitude assim, só sua mãe em nosso último Réveillon como namorados!

Depois do jogo pirotécnico dos fogos coloridos no céu, da virada dos ponteiros de relógio e do escambau a quatro, novas atitudes fazem mudanças da água para o vinho, depois do ano novo…

 

Andreia Aparecida Silva Donadon Leal – Deia Leal é Mestre em Letras – Estudos Literários pela UFV. Presidente da ALACIB. Diretora de Projetos Culturais da Aldrava Letras e Artes.

Twitter: @estrelaguianews

 

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